RELAXA, NINGUÉM SE IMPORTA COM A SUA VIDA
Muitas vezes, nos traímos ao fazer uma pergunta. Fazemos uma pergunta e, sem perceber, revelamos algo da nossa personalidade, do nosso temperamento. Certa vez (na verdade, inúmeras vezes) me perguntaram assim: “Doutor Italo, por que as pessoas se incomodam tanto com a minha vida?” É uma pergunta muito comum, que muita gente se faz sinceramente. Então, queria desenvolver aqui essa idéia.
Em primeiro lugar, essa pergunta reflete um desejo de estar sendo olhado. Trata-se de um desejo que, sob certo aspecto, é muito justificado. Temos muita dificuldade de entender que possamos estar sozinhos, que temos de fazer a nossa vida conosco mesmos. Por mais que existam pessoas que nos amem, nos apoiem, a decisão humana é sempre uma ruptura, um absoluto, no sentido de que ela está separada de todo o resto, não se dissolve em outras condutas.
No limite, quem toma as decisões da sua vida é você mesmo. Por mais que estejamos amparados por um grupo ou por uma comunidade, a decisão humana é sempre sua, a responsabilidade é sempre sua, mesmo que você ache que não é responsável.
Nós temos uma solidão ontológica, uma solidão constitucional, com a qual temos de aprender a conviver. Isso não é pessimismo, mas o ser humano é de algum modo solitário. Estamos sozinhos no mundo, morremos sozinhos.
“Não, minha avó morreu com um monte de gente ao lado dela rezando o Pai-Nosso…” Pode até ser, mas quem passou para o lado de lá foi só ela, sozinha. Então, morremos sozinhos, agimos sozinhos. A solidão é algo com o qual temos de aprender a nos confrontar. Trata-se da estrutura da vida humana. Temos algo de solitário.
Claro que temos muitas condutas que são comunitárias, inspiradas pelo amor. Mas precisamos aprender que existe um elemento de solidão. Então, quando uma pessoa me faz a pergunta “Por que as pessoas se incomodam tanto com a minha vida?”, é só uma pessoa que não se acostumou ainda com a idéia de que não há ninguém olhando para ela durante a maior parte do tempo. Isso demonstra claramente uma insegurança, uma fraqueza.
Veja bem: ninguém está nem aí para a sua vida, ninguém está nem aí para a vida de ninguém, essa é a verdade. O problema é que vivemos só com pessoas egoístas. Noventa por cento das pessoas com as quais você convive são egoístas, no bom e no mau sentido. Ou porque são moralmente egoístas – primeiro os interesses delas –, ou são egoístas inocentes – que não têm um egoísmo que vai prejudicá-lo, mas simplesmente não estão pensando em você, estão pensando nas coisas delas.
Ninguém olha para você, e raramente alguém vai se incomodar com a sua vida. Isso é coisa da nossa cabeça. Somos nós que achamos que estamos incomodando os outros. O pessoal não está nem aí para nós.
“Ah, Italo, as pessoas se interessam, sim. Só me criticam…” Criticam por um minuto, depois já esquecem que você existe. Se passar um carro de som na frente delas, se passarem pela barraquinha de cachorro-quente, se passarem por uma vitrine de loja, já esqueceram de você, pois você não é tão interessante assim para virar assunto em roda.
Quando nos acostumamos a não ser assunto nas rodas, quando não buscamos ser assunto, começamos a ter uma primeira força, que é a força para lidar com a solidão constitucional. Existe uma solidão que é sua, que é minha, e não temos como resolver isso. É algo com o qual temos de conviver. As pessoas não estão falando todo o tempo sobre nós. Não somos assunto de roda nenhuma. É uma ou outra personalidade humana que vira assunto nas rodas de amigos. São pessoas que de fato se distinguem, pelo bem ou pelo mal, o que não é o caso da maioria de nós.
Você é uma pessoa normal, como eu, como todo mundo. Boechat – “pobre do Boechat, que morreu; coitada da família…”; eu mesmo fiz uma live aqui sobre o pobre do Boechat –, ninguém fala mais dele. Ninguém fala mais de Brumadinho, ninguém fala de nada.
As pessoas falam de si mesmas. “Não, Italo, eu lembro de você todos os dias. Você é assunto aqui em casa…” Sabe por quê? Porque estou falando de você, e não de mim! Como sou uma pessoa que fala de você, de suas misérias, de suas possibilidades, do seu coração, você tende a lembrar de mim. Mas você só lembra de mim porque estou falando de você! Só por isso.
Saiba que as pessoas não estão absolutamente incomodadas com a sua vida. É você que está olhando para os outros e está falando dos outros. No fim das contas, é você quem está falando mal dos outros. Não há ninguém prestando atenção em você. Você queria que estivessem, mas não estão.
Desculpa informá-lo, esta é a realidade da vida humana: ninguém está nem aí para você. As pessoas estão querendo saber se vão pagar o boleto que está atrasado, se o crush da academia vai responder à mensagem, se vão passar naquele emprego… Ninguém está nem aí para você. Aprenda isso.
Se você passar uma semana enfiando na sua caixolinha que não há ninguém falando de você, ganhará uma super força. Isso porque não vai mais ficar achando que as pessoas o estão perseguindo, porque elas não estão.
“Italo, estão sim. Você não sabe como é no meu ambiente de trabalho…” Ninguém está nem aí para você, meu amor. Sabe por que o estão perseguindo no ambiente de trabalho? Porque você está fazendo uma coisa chamada “trabalhar mal”. Então não é perseguição, porra! Se você trabalha mal, está com cara de bunda, não entrega o que lhe pedem, está sempre fazendo fofoca, sempre chega atrasado, ora, as pessoas não estão falando mal de você, estão descrevendo a realidade. Isso não é perseguição; é diagnóstico. Então pare de se sentir perseguido e mude! Não existe perseguição nenhuma: ninguém está falando de você, ninguém lembra que você existe.
Quando você aprende que as pessoas não lembram que você existe, quando não se sente mais perseguido, você passa a produzir. Olha que coisa maravilhosa, que coisa boa da nossa vida.
Portanto, vamos parar com essa história, pois isso aqui é medo da solidão. Só que não adianta ter medo da solidão, pois ela é constitucional, é constitutiva, é algo com o qual você tem de lidar todo santo dia.
Os seus atos são isolados; é você quem os toma. Não adianta achar que alguém vai decidir por você. As pessoas até podem fazer isso, mas, no limite, foi você quem concordou, ainda que por omissão, com a decisão do outro. A responsabilidade é sua, sempre sua.
Esse papo de achar que os outros pensam em mim é conversa de quem está querendo se eximir da responsabilidade da vida. Se você não entendeu que a vida tem um peso para você, tem um peso para mim, que sou eu quem toma as decisões, que sou eu que tenho de fazer as coisas – sou eu que tenho de estudar, levar meu filho à escola, de dizer sim ou não para as situações concretas –, se não entendeu isso, vai achar que todo mundo está falando de você..
Portanto, livre-se desse pensamento de perseguição. Quando você se livra disso, vai se sentir necessariamente meio isolado, meio sozinho – “Como não há ninguém falando de mim? Então não importo muito; não sou tudo o que achava que era” –, e finalmente entendeu como a vida funciona. É exatamente assim: não há ninguém pensando em você em momento nenhum.
E o que precisa fazer? Comece a agir. A sua ação passa a ser o que você realmente pode entregar para a vida dos outros. Mas aí a coisa é concreta, de verdade. Até agora, você estava entregando só uma coisa da sua cabeça. Você acha que as pessoas estão falando de você. “A minha vida incomoda…” Sua vida não incomoda, nem não incomoda. Ninguém está nem aí para a porra da sua vida. Essa é a verdade. Infelizmente, é isso.
Quando você entender esse negócio, vai começar a estar presente nas rodas, a ajudar os outros, a servir os outros. Se você entra numa festa e acha que “a sua vida está incomodando”, você não precisa agir. O fato de você aparecer já mobilizou os outros. “Apareci e a minha vida já incomodou… late mais alto, que daí de baixo eu não escuto.” Isso aí é música da Popozuda e da Anitta. Na vida real, não é assim. Não estão nem aí para você.
Então, você acha que, quando aparece numa festa, num casamento, todo mundo se incomoda – “A diva chegou; todos os olhares são para mim; o meu vestido é do estilista famoso; meu cabelo é o mais chique; porra, eu sou do caralho!” –, mas não há ninguém pensando em você, ninguém olhando para isso, pois você não é isso tudo.
Assim, se você entende que não é isso tudo, como vai se relacionar numa festa? Vai ter de sorrir, cumprimentar, contar uma história interessante, pegar salgadinho para a tia gorda, pegar o gengibre para a tia fitness. Vai começar a olhar para os outros, ver o que cada um precisa e vai começar a servir, a conversar, a falar coisa interessante. Aí as pessoas vão olhar e interagir com a verdade que existe em você, não com essa bosta que você criou na sua cabeça.
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