CARNE E UNHA, ALMA GÊMEA… ESQUEÇA, CORAÇÃO

Não quero partir seu coração, mas a verdade é a seguinte: a história de alma gêmea entrou no imaginário do Ocidente (ela vem de uma parte do oriente também), e nós ficamos em busca da nossa alma gêmea. Quando descobrimos uma pessoa, nós pensamos: “Ah, essa pessoa é minha alma gêmea. Essa pessoa ou vai me completar, ou vai me compreender, e eu vou poder estar completamente comprometido com ela, porque ela é a minha alma gêmea, a minha cara-metade, a minha metade da laranja”. 

Alma gêmea não tem nenhuma consistência antropológica, nenhuma consistência espiritual. Ela não tem sentido, razão de ser. Porém, do ponto de vista romântico, quando eu estou escrevendo um livro, quando eu estou gravando gravando um filme, quando estou escrevendo um conto, isso aqui é um prato cheio, é fantástico. É sempre assim. Qual a estrutura de desenho animado? Qual a estrutura de filme que emociona? Qual é a estrutura? A estrutura é sempre a mesma: uma pessoa boa e o antagonista disputam para conquistar algo no final. Em geral, o mocinho e princesinha estão separados por um antagonista, que, uma vez vencido, uma vez superado, todos os problemas ficam no passado. Então, eles podem viver felizes para sempre.

Justamente dessa estrutura romântica entrou essa idéia na nossa cabeça, que é muito boa para contos de fadas, para novela da Globo, para filmes.

Para a vida real, ela acaba criando na nossa cabeça uma expectativa que jamais vai poder ser alcançada: a expectativa de que existe outra pessoa que me completa, outra pessoa que me compreende, outra pessoa que é a minha alma gêmea. “Desde antes da criação do mundo, nós dois fomos desenhados para vivermos para sempre, felizes etc.”

O que acontece? Lógico que situações externas assim nos afetam internamente. Independentemente do grau de maturidade da pessoa, nós sempre vamos ser afetados pela situação externa. E quando a situação externa nos afeta, nós começamos a ficar mais tristes, mais preocupados, mais ansiosos. Pode ser que essas circunstâncias terríveis aconteçam em um momento específico da relação em que não estamos tão unidos, porque, quem sabe, cada um está pensando em uma coisa. Isso é algo corriqueiro de acontecer e não há problema.

A esposa está pensando em montar a loja dela; o marido está pensando em como desenvolver um software. Eles estão cada um na sua, mas estão convivendo bem, e os dois são assaltados por uma ameaça externa, e começam a se sentir mal, e começam a se entristecer, e começam, de repente, a ter uns desentendimentos. Os desentendimentos podem fazer com que eles pensem o seguinte: “Olha, eu estou me desentendendo com essa pessoa. Eu não estou feliz com essa pessoa. Então (e aqui reside a maldade desse pensamento), ela não é a minha alma gêmea”. Se isso acontecer com você, você vai pensar: “Pô, casei com a pessoa errada. Eu tinha de ter casado com o Fulaninho, com a Fulaninha que eu conheci há anos”. Entende a maldade da história da alma gêmea?

Quer dizer, nenhum relacionamento é cor-de-rosa. Nenhum relacionamento de pai com filho, de mãe com filho, de marido e mulher é cor-de-rosa. Então, o que acontece? Um casamento feliz, um casamento pleno, um casamento que vai se realizar, um casamento dentro do qual eu vou poder manter a minha palavra que eu dei diante da assembléia, diante do ministro divino, diante dos meus pares, diante do juiz, vai se manter feliz, pleno, vai se desenvolver na medida em que eu não ficar achando que a coisa diz respeito a ter casado com a pessoa certa, e sim no momento em que eu entendo que casamento feliz diz respeito a fazer as coisas certas com a pessoa com a qual casei.

É sobre isso que diz respeito um relacionamento feliz, um relacionamento pleno, um relacionamento de respeito, um relacionamento no qual os dois estão se alimentando, no qual os dois estão se entendendo, no qual os dois querem ir para frente.

Uma das coisas que nós podemos falar aqui é o campo sexual. O campo sexual é um domínio importantíssimo do relacionamento. Por mais que algumas pessoas digam: “Não. Não tem a ver com sexo. O relacionamento trata do valor das pessoas, do que nós compartilhamos”. Ok, tudo bem, mas também é verdade que o sexo é fundamental. A vida sexual é fundamental, sobretudo em certa época da maturidade do relacionamento. Por quê? Porque é durante o ato sexual que certo modo de intimidade aparece. Claro que a intimidade pode ser acessada de várias formas. Mas é natural, no casamento, a vivência da intimidade, o desejo de intimidade, a entrega, de certo modo, que só pode se entregar para aquela pessoa com a qual você se casou. No ato sexual existe toda uma dinâmica de penetração, de abertura, de troca de olhar, de troca de energia, de troca de carinho, de troca de sentimento, de troca de afeto.

Em tese, 80% das coisas que nós vivemos no relacionamento podemos compartilhar com qualquer pessoa. No entanto, em relação ao sexo, só podemos compartilhar com a pessoa com a qual estamos casados. E é lá que a coisa aparece de modo mais pleno. É lá que a intimidade, de fato, se verifica de modo mais atado, de modo mais uno, de modo mais íntimo mesmo. A intimidade, por definição.

O ato sexual constitui um dos domínios de fazer a coisa certa com a pessoa com a qual você casou. A vida sexual é um domínio muito importante. Outra coisa é todo o grande campo da conversa, das discussões. Que fique claro: a conversa não resolve tudo, mas a conversa é um dos elementos importantes no relacionamento. Entretanto, existem questões no relacionamento entre marido e mulher que nós não vamos resolver por meio de conversa. Por quê? Por vários motivos: porque não sabemos conversar, porque a outra pessoa não quer ouvir. Então, há outros modos de acessar a intimidade, de acessar o interior e fazer o outro fazer o que nós queremos sem que seja pela conversa.

Quando não sabemos conversar direito, muita coisa pode acontecer. Dependendo da conversa, nós sabemos até que temos razão. Se nós pararmos meio segundo para pensar, em geral sabemos quando estamos certos e quando estamos errados. Existem momentos de dúvida, mas normalmente não ficamos em dúvida. Em geral, quando conversamos com uma pessoa, nós já pensamos um pouco sobre o assunto, nós já meditamos sobre o assunto, o assunto é importante, mais ou menos, para nós. E nós temos até razão naquilo. Imagine uma discussão financeira: um da família é o gastador; o outro, o poupador. Vocês estão em um momento de crise. Ora, o poupador vai conversar com o gastador, e é lógico que o poupador estará certo. O gastador vai dar mil motivos pelos quais ele precisou gastar dinheiro, mas ele está errado. Vocês estão em período de recessão, estão devendo dinheiro para o banco, então vocês não poderiam estar gastando aquele dinheiro.

Só que o ser humano foi desenhado para ganhar, para vencer. Ele não foi desenhado para perder; ele foi desenhado para argumentar e vencer. Então, o gastador da história vai se imbuir de uma série de argumentos para tentar convencer o outro do contrário. Mas o poupador é quem está certo. E, aqui, vou dar um conselho para você que está certo.

Nós sempre podemos vencer uma discussão, sobretudo quando estamos certos, se tivermos paciência. Se nós conseguirmos pensar no seguinte: “Olha só, eu não preciso vencer essa conversa hoje. Eu não preciso convencer hoje essa criatura que eu amo. Eu posso convencê-la depois de amanhã”. Isso muda a nossa cabeça. Isso vai mudar a nossa relação. 

Quando entro em uma conversa com o meu marido/minha esposa e eu estou certo, mais do que nunca tenho de pensar o seguinte: “Ele/ela não precisa se convencer disso, não precisa ver isso, não precisa entender isso agora, durante a conversa. Ele/ela pode ver, pode se convencer, pode entender esse negócio daqui a dois dias”. Então, isso gera em mim uma calma e me instala na minha razão. Eu fico montado, definitivamente, na razão. Porque muitas vezes nós temos razão, mas a razão não está selada. Nós não selamos esse cavalo, e nós não conseguimos montar lá. Então, nós não conseguimos fazer com que a nossa razão nos leve ao nosso destino.

Quando nós temos razão, precisamos de calma para podermos montar na razão e para que a razão possa nos conduzir, conduzir o outro até o destino mais eficiente, mais eficaz, o destino verdadeiro da coisa. 

Trata-se de um detalhe. Mas, se nós pegamos esse detalhe e entendemos, muda o nosso relacionamento com qualquer pessoa. Se nós temos razão – “Eu sou o poupador, e nós estamos em período recessivo, e nós não podemos gastar isso. Óbvio que precisamos economizar” –, o que fazer? Eu fico calmo, entendo que não preciso convencer aquela pessoa que eu amo, eu não preciso convencer o meu marido, não preciso convencer a minha esposa naquele momento. Eu começo uma conversa, a pessoa vai se defender, a pessoa vai se armar, e tudo bem. Não preciso convencê-la agora. Posso convencê-la daqui a dois dias. Então, depois converso de novo, mostro por detalhe, mostro de outro modo. 

E a coisa vai ganhando vida; vai ganhando a vida boa, vai ganhando a vida dinâmica. Ninguém vai se estressando, ninguém fica nervoso.

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