TERAPIA EM FOCO: AFINAL, SEUS PROBLEMAS SÃO ÚNICOS OU IGUAIS AOS DE TODO MUNDO?
Essa é realmente uma pergunta importante.
E a resposta é dupla: de um lado, seus problemas são só seus; de outro, são os mesmos que os nossos.
Explico-me.
Para quem está vivenciando o problema, ele é único: “VOCÊ está com ansiedade porque seu primeiro filho vai nascer”, “VOCÊ está preocupado porque sua padaria não vai bem”, “VOCÊ está triste porque seu pai está com câncer terminal”.
Nesse sentido, os problemas são singulares. A vivência das nossas questões, tanto alegres quanto tristes, são únicas, no nosso ponto de vista subjetivo.
Agora, do ponto de vista objetivo, os problemas seguem um conjunto de possibilidades do real. Isso equivale a dizer que existem roteiros possíveis que os seres humanos podem viver. E esses roteiros não são muito amplos em número. Ou seja, objetivamente, os modos de sofrer são mesmo iguais. A mesma coisa acontece com os modos de ser feliz.
Estar na vida, acredite, objetivamente, é muito parecido para todo mundo. Os motivos pelos quais você erra, cai, chora, sofre, não acorda na hora escolhida, mente quando deveria ser fiel são estruturalmente iguais aos das outras pessoas. Todos eles estão dentro de possibilidades limitadas. O que os torna, nesse aspecto, idênticos. No fim das contas, é isso que possibilita o ofício do terapeuta.
O TERAPEUTA COMO ELE DEVE SER
O ofício do terapeuta só pode existir porque é possível descobrir em qual padrão de funcionamento o sujeito disfuncional está. O terapeuta que diga o contrário, ou que não perceba isso, é simplesmente um profissional ruim ou sem experiência. Um terapeuta astuto e experimentado percebe essas coisas sem problemas: há padrões no sofrer e há padrões no ser feliz, há padrões no cair e há padrões no elevar-se.
Quando comecei a atender, havia em mim uma ansiedade antecipatória que se expressava da seguinte forma: “E se o paciente que entrar agora apresentar uma questão totalmente diferente dos outros? E se eu não souber resolvê-la? E se… E se… E se…” Ainda bem que, com o tempo, a ansiedade diminui – ao ponto de sumir – e a gente percebe a semelhança estrutural entre os problemas dos pacientes.
Por exemplo, a própria ansiedade, que a maioria dos pacientes apresenta, tem um padrão, e isso se dá tanto no nível metafísico quanto no histórico-biográfico e no neurofisiológico.
Para começar de baixo, olhando para a neuroanatomia, sabemos que possuímos um número limitado de neurotransmissores. Ou seja, do ponto de vista mais material, no conjunto de neurotransmissores do nosso cérebro, as possibilidades já são limitadas. Não são 7 bilhões de neurotransmissores diferentes, um para cada ser humano – o que tornaria cada modo de sofrer diferente. Não. São só 4. Isto é, contamos com um padrão no funcionamento desse sistema.
No nível histórico-biográfico, idem. Existem tipos de personagens e de roteiros possíveis para que você atue: o irônico, o imitativo-baixo, o imitativo alto, o romântico e o mítico.
Metafisicamente é a mesma coisa. Os padrões são determinados.
Se sempre chegasse um paciente com um problema completamente novo, a profissão ou o ofício de terapeuta não existiria.
No fundo, o ângulo de abordagem subjetiva, que não é ruim, mas necessário, faz com que a gente imagine os nossos problemas como únicos, porque, para cada um de nós, que está dentro do problema, eles de fato o são. Mas, quando me apresento para um profissional, tenho de torcer para que ele seja bom o suficiente e me faça me sentir único na minha subjetividade, ao mesmo tempo em que opera objetivamente.
O bom terapeuta, no mesmo ato, assume os dois pontos de vista. Esse é o próprio da terapia. Dos dois olhos do terapeuta, um é objetivo e o outro é subjetivo. Se o profissional for só objetivo, ele será seco, duro e não ajudará em nada. Em contrapartida, se é só subjetivo, acaba chorando junto e dizendo tudo o que você quer ouvir, porque ele está ali participando dos dilemas com você.
MODOS DE UMA TERAPIA ACONTECER
Com isso tudo em mente, fica fácil de entender porque hoje os terapeutas em geral adotam a abordagem do atendimento individual. Em primeiro lugar, há razão histórica para isso. O Dr. Freud, pai da psicanálise, fez assim: um falando e o outro ouvindo. Mas a interação individual é apenas uma das formas de a coisa acontecer, não a única.
No fundo desse modo de fazer jaz a idéia de que o seu problema é único e você quer um terapeuta só para você. Mas, eu digo, cuidado. Talvez o que você queira é alguém que esteja ali alimentando o seu ego. Talvez você queira platéia para um universo fantasioso. Não digo que isso acontece sempre, mas em 90% dos casos foi o que vi. Você pode estar só gastando dinheiro para, no fim, alimentar o seu ego. E, alimentar o ego, às vezes, faz com que o sujeito fique anos frequentando uma terapia.
Não estou com isso fazendo uma crítica às terapias que duram anos. O nó está em ficar um tempão na mesma questão porque o terapeuta só consegue encarar o problema do ponto de vista subjetivo.
O método que está na cabeça de todo mundo, quando o assunto é terapia, é ficar sentado falando com o terapeuta. Mas justamente por isso tem um monte de gente que não faz terapia porque não sabe o que falar. Esse método é uma herança do Dr. Freud. Mas ele não é o único, e não sei se é o melhor.
Houve um método, talvez mais eficaz, que formou uma sociedade inteira de maneira excelente: o teatro grego. O teatro grego tinha, ao mesmo tempo, uma função pedagógica e de cura da alma. Ele era uma espécie de atendimento coletivo, e a comunidade ao assistir às peças percebia os traços centrais e as lições, saindo melhor da experiência. Essa também é uma forma de fazer.
Então, o modo individual não é o único. Além do que, encontramos nele limitações. Ele pode, por exemplo, aumentar a sua autorreferência. Pode também virar uma paródia de uma conversa. No fundo, o terapeuta vai fazer você refletir sozinho.
A MINHA EXPERIÊNCIA
Quando apareci na internet, eu já estava há quase uma década no consultório. Eu tinha, portanto, experiência para perceber quando as pessoas estavam ou não melhorando. E o pessoal me relatava que a vida deles estava mudando por causa dos meus vídeos: começaram a trabalhar direito, a ter religião, melhoraram o casamento e as amizades. Por causa disso, percebi que o que eu estava fazendo assemelhava-se a um gênero de terapia social.
Eu estava encenando uma possibilidade do espírito que comunicava coisas que faziam as pessoas melhorarem. Vi também isso acontecer, de modo incipiente, com quem participava dos meus eventos presenciais: o que acontecia era uma encenação terapêutica, tão antiga quanto a organização da cidade na civilização ocidental, a partir da Grécia.
Por isso, não é ruim falar de uma terapia de palco. Neste sentido, sem conotação pejorativa, a terapia de palco talvez seja o método mais antigo e mais validado da história. Já no meu consultório, eu tinha os atendimentos individuais e, no fim do expediente, trabalhava com grupos distintos. Posso dizer com certeza que essas pessoas dos grupos melhoravam muito mais e mais rapidamente. Então, quem foi meu aluno dos cursos presenciais, não foi meu aluno, foi meu paciente.
Em suma, terapeuta bom é aquele que alia as visões subjetiva e objetiva do problema e terapia boa melhora o paciente, seja num atendimento individual ou coletivo.
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