COM DIFICULDADE DE SEGUIR UMA DIETA?
Muita gente quer perder peso, ter uma rotina de atividade física, de alimentação regulada, de sono equilibrado, mas se perde bonito nas metas concretas que estabelece a si mesmo. Uma mudança geral no estilo de vida não precisa começar de maneira radical. Na verdade, as chances de uma mudança radical dar certo são praticamente nulas. Quem acredita ser capaz de alterar de uma hora para outra hábitos que foram adquiridos ao longo de anos só revela uma falta aguda de autoconhecimento: o sujeito de fato não sabe o quanto consegue entregar.
Você se interessa por uma vida mais produtiva, com mais disposição, atividade, saúde, bom desempenho, então assume que está, sei lá, 40 kg acima do peso e decide-se a perdê-los num espaço de tempo reduzido, digamos, 2 meses. Precisa dizer que essa meta está totalmente fora da realidade? Quanto tempo você levou para ficar isso tudo acima do peso? Poucos meses não foram. Muito provavelmente foi coisa de 10 anos de relaxamento. Só posso então concluir que você se conhece bem pouco.
Às vezes é até possível perder bastante peso em um mês, desde que o tratamento seja à base de medicação. De qualquer forma, depois de diminuir vários quilos num curto espaço de tempo, você não consegue continuar com a dieta e acaba ganhando tudo de novo, frequentemente até mais, sem contar a frustração, que não vai lhe deixar juntar forças para continuar na iniciativa de mudar de vida.
No fundo, o que está presente é um elemento chamado soberba. Você não se conhece e termina achando que é mais do que realmente é. Você não consegue ser humilde e perceber que, se ganhou 40 kg ao longo de 10 anos, não vai perder esse peso em 60 dias.
Por isso é mais importante aderir ao processo do que ao resultado, ainda que este último seja excelente. Claro que queremos o resultado. Ninguém se contenta apenas com o processo. Mas quem está sedentário e flácido, sem praticar atividade física ou dieta, precisa se voltar ao processo. O desafio mesmo é se envolver com o processo, com o que deve ser feito todo dia.
COMECE NÃO ENCHENDO O SACO
O que não pode é você se acostumar a reclamar toda vez que a salada ocupa o lugar do bacon. Você vive na frustração de não poder comer o que quer, sempre tem uma coisinha negativa para dizer a respeito do que deve comer. É reclamação o dia inteiro. Não tem como isso dar certo, como já falei outras vezes. Desse jeito, cedo ou tarde você vai desistir da dieta.
Em qualquer mudança de hábito, o começo é mais sofrido. Normal, você fazia as coisas de um jeito e agora deve fazer de outro. Como o hábito anterior estava automatizado, você terá de forçar o abandono dele. Digo forçar no sentido de fazer força mesmo, você vai gastar energia para não fazer de um jeito e fazer de outro. Mas se você se acostuma a reclamar, uma hora você se vê louco para abandonar aquilo que traz tanto sofrimento, e a solução não será outra senão a desistência.
Você não trabalhou até a virada de chave que sempre acontece com quem persiste. No início, é um esforço. De repente, depois de ser fiel aos propósitos por um tempo, a chave vira e a coisa fica natural. Mesmo que você dependa de comer na rua, almoçando em restaurante ou lanchando em padaria, de repente você escolhe melhor, sem esforço, o que comer. A grande disciplina é saber dizer não. É estar no buffet e não pegar o pastelzinho. Depois de um tempo nisso, você só escolhe o que está dentro do programado.
Mas tudo começa com não reclamar. Os primeiros dias, as primeiras semanas são fundamentais. Se nesse período você não refrear o falatório, os seus propósitos vão por água abaixo rapidinho. Até a virada de chave, muito do que você for conquistar depende de uma determinação que não pode ser fragilizada por uma boca que, porque não come o que estava acostumada, não deixa de bradar sua desilusão.
ABRINDO “UM POUCO” O LEQUE
Quando falo para as pessoas que elas devem aceitar a vida como ela se apresenta, a vida real e concreta, o que estou considerando? Justamente a vida na qual tudo acontece, onde tudo está articulado. Nesse sentido, não comer o que não se deve não está isolado. Para ser capaz de seguir uma dieta sem grandes problemas, você tem de levar a vida como um todo a sério. O trabalho, a família, a saúde, tudo precisa ser encarado com atenção.
Se a vida inteira do indivíduo está num certo ritmo desde a manhã, se ele acordou na hora, arrumou a cama, escovou os dentes, entregou os relatórios, se ele faz tudo do jeito que é bom fazer, não vai ser difícil chegar no self-service e escolher peito de frango e batata cozida em vez de linguiça e pastel. Ele não vai ficar matutando demais na parte da comida, vai pensar nisso uma vez e começar a colocar em prática o que decidiu. Claro que com algum sofrimento no começo, devido ao hábito e tal. No entanto, em pouco tempo ele percebe a virada de chave e passa a comer, naturalmente, o que escolheu comer.
Então, um dos princípios que tentaremos integrar, para que a coisa aconteça, é organizar a vida diante do dever. Isso parece mais difícil, mas é o que organiza. O efeito positivo dessa abordagem age inclusive na ansiedade que grande parte das pessoas hoje tem. E a ansiedade é descontada onde? No marido, na esposa, na comida…
Sempre notei nos meus pacientes vários buracos nas suas agendas. O sujeito não sabia como lidar com as atividades, nem como organizá-las, e isso refletia diretamente na maneira dele comer. É um trabalho de elaboração de rotina, bem ao contrário do que se espalhou nas últimas décadas. Rotina só ajuda. Tudo se encaixa melhor e a ansiedade custa a aparecer. E se a rotina está preenchida dentro do dever, aí sim o bife à milanesa começa a perder fácil para o frango com batata doce. Se cumprirmos com nosso dever dentro da rotina, teremos uma chance muito maior de prosperidade.
Devemos esquecer de uma certa tara da vida sem rotina e passar a amar as coisas organizadas de acordo com o dever. Sem rotina, começamos a ter descontrole em tudo. Precisamos nos voltar à vida real. E o que é esta vida real? Seus deveres familiares, profissionais, espirituais e intelectuais. Quando o todo está organizado, você não consegue chegar num restaurante e chutar o balde. Vira algo normal pedir água com gás e limão em vez de refrigerante.
“AI MEU DEUS, FALHEI”
E quando você come um doce num aniversário ou uma pizza na festa da empresa? Quer dizer que o mundo acabou, que você não presta para nada e é incapaz de realizar o que planeja? Claro… que não.
Aconteceu, não desacontece. Comeu, está comido. O problema mesmo é sua soberba. Ela é que lhe faz procrastinar e cair na desesperança. Você opera num ajuste mental bastante desconectado da realidade.
Se caiu, está caído. O que você fará então? Com toda a simplicidade do mundo, é só voltar. Desistir não acelera o processo. Se você desistir, aí é que elimina suas chances de chegar lá.
Essa é uma coisa sobre a humanidade. Não existe um ser humano perfeito, sempre vai haver uma falha no processo, e a vida é linda por causa disto. É como aquele bom e velho meme da internet: Expectativa (ponto A até o ponto B em linha reta) vs. Realidade (cachoeira, buraco, desvio). Mas é só se manter no caminho.
Por acaso você deixou de aprender a andar porque caiu dezenas de vezes? Não! Você tropeça mas continua andando. Todos os processos são dessa forma. Se você deseja uma vida alimentar saudável, a mesma coisa. Só que a pessoa soberba fica aterrorizada com a situação: “Eu, que investi dinheiro numa nutricionista, comprei curso online, fiz até uma planilha com todas as refeições planejadas, como essa pessoa organizada e motivada (eu!) comeu um brigadeiro?”. É um processo interior que acontece com todo mundo.
Caindo e levantando, você vai adquirindo o hábito certo. Ficou duas semanas seguindo certinho o planejado? Depois da queda, ao voltar, você consegue ficar três semanas, e assim até o normal passar a ser o que antes era um sacrifício.
O que importa mesmo é você fazer tudo certo na sua rotina. Se ela está redondinha, não é uma falha pontual que vai estragar tudo. O que lhe define é a rotina, a regra, não a exceção. Não precisa se martirizar.
Cumprir o dever… disciplina… rotina… essas são as palavras-chave.
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