COMO LIDAR COM PAIS E PARENTES DEPOIS DE ADULTO
A questão de se importar ou não com pai, mãe, irmãos, avós, tios e primos, depois de adulto, tem de ser respondida em duas direções diametralmente opostas.
De um lado, há um nada, um nulo, um 0%. De outro, um tudo, um totalmente, um 100%. Tomar uma outra direção depende do sentido que “importar-se” está sendo entendido.
O sujeito maduro, que não é apenas crescido, mas também íntegro e responsável, oscila entre os dois extremos do tudo e do nada naturalmente, sem a problematização própria de quem cresceu e não amadureceu.
Por isso, saiba, se a sua relação com seus familiares é um problema para você, mesmo depois de adulto, você é adulto só no papel. Com certeza há uma dependência sua, de alguma espécie, em relação a eles. Pode ser uma dependência afetiva, financeira, intelectual… Qualquer uma. Ou todas. O fato é que você ainda está ligado aos seus familiares de uma maneira infantil. E é com você que quero conversar de perto.
DE INFANTIL A JUVENIL
A dependência para com a família impede o sujeito de lidar com ela da maneira correta. E o que é essa dependência? No fundo, você espera que eles lhe dêem algo: uma palavra de apoio, uma confirmação do que você está fazendo, dinheiro mesmo, que eles entendam as suas escolhas, não só que o apoiem, mas que consigam lhe compreender.
Essa é uma relação estúpida para se estabelecer com um familiar se você já é um adulto. Na maioria das vezes a pessoa que tem problema com a família diz que não a aguenta mais, que eles são um saco, que lhe tiram a paz, que são tóxicos… Ao dizer isso, você demonstra que tem um tipo de relação infantil com as pessoas que estão ao seu redor.
Toda família, em regra, tem uma visão de infantilização, só uma ou outra não vai apresentar essa tendência. É mais confortável para a família lhe enxergar como um bebê. Para eles, é difícil notar que você cresceu, se destacou, rompeu e que não precisa deles para nada. Normal, já que eles estão com você desde as fraldas cheias e as golfadas de leite depois da mamadeira. Algumas pessoas notam essa tendência estranha, própria das famílias, e rompem de uma vez, no sentido de virar as costas e não querer saber mais deles.
Tudo bem. Essa pode ser uma solução temporária, que vai resolver os seus problemas por um tempo. Mas ainda é uma solução pouco madura. Digamos que agora você tenha se tornado um adolescente, deixou de ser uma criança que dependia da validação da família para tudo e virou um juvenil, um adolescente, magro, esquisito, que só tem bigode. Passou a ter a mentalidade de “agora vou romper com a minha família, e vou fazer isso para provar que cresci”. Isso é igualmente imaturo.
Coloque a cabeça no lugar: você cresceu. Uma pessoa crescida precisa deixar algumas coisas para trás. Uma delas é a necessidade de validação externa o tempo todo. Sobretudo, validação de um grupo de pessoas chamado família, que tem uma visão infantilizada de você.
TUDO OU NADA
Então, entendendo a ideia de importar-se com a família como essa validação para tudo, a nossa consideração tem de ser zero, nenhuma. Depois da vida adulta, nesse sentido, você se importa zero com a família. O que significa se importar zero? Eu vou agir, fazer as coisas, ter a minha vida, os meus projetos profissionais, a casa que vou comprar, o nome do filho que vou ter segundo os meus critérios e os da minha esposa, se houver uma.
Uma pessoa adulta normal se importa, nesse sentido, 0% com a família. Isso é um bem, um ato de justiça com a própria família. A família não tem mais responsabilidade sobre você depois que você se torna adulto. Se “importar-se com a família” é ouvir o que eles têm para falar sobre você, é agir segundo a validação deles, se isso é o que está na sua cabeça, e eu sei que está, a sua relação com eles ainda ocorre de modo infantil.
Agora, importar-se no sentido de cuidar, estar atento, dar, servir, eventualmente visitar quando está doente, passar as festas, ligar para saber como a pessoa está ou de fato se deixar disponível para ajudar, aí o ponto em que você deve se importar é 100%. Num extremo do importar-se é 0 e no outro é 100. Depende de como você significa o termo.
O que um adulto faz? Ele suporta tudo e não se importa, numa perspectiva de necessitar de validação, com nada. Claro que essa é uma proposta que está sendo colocada na mesa para você. Uma proposta exigente de amadurecimento.
É igualmente juvenil, infantil, pouco maduro falar “eu não me importo com a minha família”. E depois não querer saber mais dela. Você nasce dentro de uma família por um motivo, e existe dentro dela um caminho de melhora pessoal que você só encontra lá. Abandonar de vez a responsabilidade que você tem com a sua família é igual a conquistar a perdição da sua própria alma.
A nossa vida é composta de vários ambientes. Existe o ambiente profissional, o ambiente familiar íntimo (com sua esposa e filhos), o ambiente familiar distante (com seus pais, irmãos), o ambiente de amizade, o ambiente religioso. Cada ambiente desses você freqüenta, se importa e se desenvolve de um modo próprio. Aquele sujeito que abandona a família, não se preocupa mais com os pais e irmãos, por mais “tóxico” que isso seja, não vai se desenvolver completamente, vai estar atrofiado em um lugar crucial.
Existe um cuidado próprio que você precisa tomar com a sua família, e esse cuidado não é se rebelar contra ela e, eventualmente, falar mal dela para os outros. Isso é ridículo. Desse modo, você se torna uma pessoa com a qual não se pode contar absolutamente.
Preciso repetir didaticamente: importar-se no sentido de esperar a validação deles para agir, 0%. Importar-se no sentido de cuidar, estar atento, dar atenção, carinho – por mais que eles façam demandas malucas, achando que você é uma criança de 4, 5, 6 anos –, 100%.
REPOSICIONADO A RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
Deixe eles falarem de você o quanto queiram, uma hora eles aprendem. Se não aprenderem, paciência. A pergunta é: por que diabos você é tão estúpido a ponto de ir, num domingo, na casa do seu pai e se afetar quando ele faz um comentário qualquer como se você fosse uma criança? Você, de fato, se comporta como uma criança. Você se irrita, perde a paciência. Desse jeito, ele tem razão, você é uma criança mesmo. Você se comporta feito um moleque.
O que uma pessoa madura faz (mesmo antes de passar as crises próprias da maturidade), depois de ter sua própria vida, ao ir jantar na casa dos pais? Aqui está a proposta que eu tenho para passar: uma pessoa madura ajuda a tirar o frango do forno, leva uma sobremesa, senta-se, serve-se, tira a louça, tudo isso ouvindo as demandas dos pais, irmãos e primos.
Você ouve aquelas demandas com um sorriso no coração: “Tá bom, não sabem nada da minha vida, me deixa cuidar deles”, isso é o que um adulto faz. Com o tempo, cultivando esse tipo de atitude, o relacionamento se transforma e se reposiciona. Ou seja, a relação de pai e mãe precisa se transformar, virar outra coisa. Depois de adulto, não é possível carregar a mesma qualidade de relação de pai e mãe com filho de quando você era um adolescente.
Estou querendo dizer que, quando você é um adulto, é necessário reinventar a sua relação com seu pai e sua mãe. Até que ponto nós devemos nos importar com familiares depois de termos a nossa família?
Importar-se com o que eles dizem, ou seja, em que bairro você vai morar, que roupa vai usar, como você fala com a sua tia etc., nesse sentido, 0%. Importar-se com cuidar, dar atenção, servir, fazer as coisas por eles é 100%. Esse é o tal do honrar pai e mãe que as pessoas adoram falar por aí.
Os familiares não têm mais o dever de intervir na sua vida concreta, você pode tirar esse peso deles. Esse é um ato de justiça e caridade, e tudo faz parte de um princípio de amadurecimento dentro da família. Se você não consegue perceber isso, está lidando com eles, na melhor das hipóteses, de maneira adolescente, quando não infantil mesmo.
Além de uma relação saudável com os parentes, a maturidade exige um cuidado com a espiritualidade, a saúde do corpo, a cultura, o amor… E tudo isso está muito bem trabalhado no Guerrilha Way. Visite: https://guerrilhaway.com.br/ |