O ÚNICO MÉTODO DE ESTUDO QUE FUNCIONA

Muitas pessoas se perguntam sobre como estudar, entre essas perguntas estão: 

  • Qual o melhor método de estudo?
  • Qual a melhor técnica de estudo? 
  • Como estudo bem para um concurso? 
  • Preciso educar melhor os filhos: como consigo ganhar ritmo de estudo? 
  • Como mergulho na alta cultura? 

Aqui vamos falar um pouco sobre métodos de estudo. E ressalto que o que tenho a dizer sobre método de estudo pode parecer frustrante para alguns.

UM MÉTODO PROBLEMÁTICO DESDE A BASE

Consideremos os muitos livros que falam sobre métodos de estudo, técnicas de estudo: temos Como ler livros, de Mortimer Adler, ou então A arte de estudar, sobre memorização. Vou falar para vocês: sou psiquiatra, estou nesse assunto há algum tempo, eu mesmo já peguei uma série desses livros sobre técnicas e métodos de resumo – o pessoal adora esses assuntos.

Se você quer começar sua vida de estudo por esses métodos de resumo, o que vou dizer aqui é frustrante. A frustração, porém, é boa, porque tira a expectativa de algo que não pode se concretizar. Quando começamos a ter expectativas demais em algo que não vai se concretizar, ficamos com uma esperança vã, uma esperança tola, acabamos nos frustrando muito mais lá na frente. É melhor se frustrar logo no início, para poder pisar num território sólido, naquele território que nos vai levar para algum lugar.

É muito engraçado o título Como ler livros, pois, se você não sabe como ler um livro, como vai ler esse livro especificamente? Já há um erro fundamental no assunto, já começa uma petição de princípio, com um erro tautológico. Se eu não sei ler um livro, como vou ler o livro que me ensina a ler livros? Na verdade, essas técnicas prometem demais e entregam muito pouco. 

Qual método que rigorosamente funciona? Só há um único método que vai fazer com que você estude e fixe na sua mente e no seu coração o que você aprendeu: o interesse genuíno. Eu sei que isso pode soar frustrante.

“Eu preciso estudar, para o meu mestrado, o funcionamento bioquímico de células de um peixe que só existe lá na Nova Zelândia. Como eu consigo estudar isso aqui?” Se você não se interessa pelo peixe que vive na Nova Zelândia e se não se interessa pelas células dele, se não se interessa pela bioquímica das células dele, não vai conseguir estudar. É um esforço de memorização, simplesmente. Aquilo ali não é propriamente um estudo. É um esforço para reter em sua memória de curto prazo um conteúdo de que você precisa para fazer uma prova, para passar no concurso. 

ACEITE: ESTUDAR É CHATO

Uma pessoa que está estudando para concurso não precisa ter na cabeça o gosto pelo estudo. Você não precisa gostar de estudar; você tem de visualizar o que quer. E o que você quer? Passar naquele concurso; você quer aquele salário, aquele cargo, aquele emprego. É por isso que você estuda. Não está estudando para aprender. O estudo de concurso não diz nada para você, porque você não quer saber daquilo. Só precisa decorar aquela meia dúzia de leis, aquela meia dúzia de normas. 

Estudar não é gostoso, mesmo para quem tem prática de anos de estudo. Eu estudo rigorosamente todos os dias. Para mim, é quase que um ato sagrado. Às vezes paro para estudar meia hora; na maior parte das vezes paro de uma hora e meia a duas horas, no mínimo. Estou nesse ritmo há anos, e é ruim. Todas as vezes que paro para estudar é ruim, é desconfortável, não é gostoso.

A primeira coisa que temos de ter na cabeça: se você está esperando ter uma boa sensação para sentar-se à mesa, abrir o seu livro e começar a estudar, desista, esqueça. Gostoso é comer torta de limão. Não é gostoso estudar. Não vou conseguir lhe dar uma técnica de estudo que vai transformar estudar em um ato prazeroso. 

AS DIFERENTES MOTIVAÇÕES DO ESTUDO

Depois, o que é pior, você precisa conseguir separar na sua cabeça aquilo que está estudando segundo uma funcionalidade. Estudar para passar no vestibular tem uma função; estudar os livros de Charlotte Mason para aprender a ser uma mãe homeschooler tem outra função. São tipos de estudo distintos. Não dá para abordar os temas igualmente. 

Uma coisa é estudar para prova de título; outra coisa é estudar uma disciplina da minha matéria. Na prova de título, por exemplo, em ortopedia, você tem de decorar um monte de coisa que vai esquecer daqui a pouco. Você não precisa daquilo. Outra coisa é um ortopedista começar a estudar, por exemplo, geopolítica, religião, filosofia etc. São assuntos diferentes que não entram no mesmo lugar. Então, é necessário fazer essa primeira distinção. 

O estudo funcional, ou seja, o estudo para passar em prova, para passar em concurso, aquele estudo para apresentar numa reunião, é uma coisa. Esse estudo não é gostoso, e você não precisa ter interesse. Precisa simplesmente saber que precisa de uma disciplina de memorização. Não tenha outras expectativas. A primeira atitude é sentar na sua cadeira sem expectativas de aprender. 

Ao estudar para um vestibular, para um concurso jurídico, para uma prova de título, para um concurso na sua área, entenda o seguinte: Esse é aquele tipo de conteúdo que eu posso esquecer no primeiro xixi que eu fizer no vaso? Esse conteúdo vai sair com o xixi? Beleza, alguns conteúdos são assim mesmo. E é dessa forma que você vai encará-los. “A única coisa que tenho de fazer é reter por mais tempo. Não preciso entender, só preciso decorar.” 

Nem tudo que estuda, nem tudo que lê, nem tudo que visualiza, nem tudo que ouve você precisa entender. Há informações que só existe a necessidade de decorar. Isso aqui já resolve metade dos problemas de estudo funcional para concurso, de estudo funcional para mestrado, doutorado, pós-graduação. 

Em certas ocasiões você vai pegar seu livro de microeconomia, se você não tem interesse naquilo, vai decorar, vai fazer um resumo e vai fazer a prova; pronto, vida que segue. Não tem de ficar pensando naquilo. Esse suposto conhecimento só vai lhe trazer problemas e ocupar sua atenção. Jogue fora mesmo. “Ah, perdi um tempão estudando aquilo.” Não, você está investindo, mas não em conhecimento, você está investindo no título, no dinheiro do concurso. 

Por isso é muito difícil criança, adolescente estudar, porque criança e adolescente não estão visualizando bem o que o estudo para aquela prova pode trazer. Por exemplo, a criança vai estudar para a prova de português. Por que ela quer estudar aquilo? Ela não entende o motivo de estudar aquele negócio. Aquele não é o tipo de conteúdo que ela quer aprender, que ela tem interesse de aprender. 

É necessário explicar para a criança que o negócio é decorar, testar a memória. Você coloca um desafio para a criança, um desafio para o adolescente. Qual a relevância de uma criança aprender a fórmula de Bhaskara? Nenhuma, a menos que seja um exercício de memória.

ADQUIRIR CULTURA PELAS RAZÕES CORRETAS

Porém, quando entramos na vida adulta e queremos manter a nossa vida de estudos, a questão que devemos nos impor é: “Eu preciso estudar? Tenho interesse no estudo? Tenho interesse nessa disciplina?”. O verdadeiro método de estudo chama-se sinceridade. O único método de estudo que funciona é a sinceridade do seu coração. Se você sinceramente precisa aprender aquilo, precisa aprender porque está vendo o seu filho crescer e quer saber como educá-lo melhor, se sinceramente quer aprender o conteúdo dos livros de Catherine L’Ecuyer, se sinceramente quer aprender o que Charlotte Mason quer lhe transmitir, se sinceramente quer aprender o assunto dos quatro temperamentos sobre o qual eu, o Dr. Italo, falo, então você vai sentar e estudar, porque tem motivo para estudar. 

Se escolhemos não reclamar, a única coisa possível a ser feita é se acostumar com o incômodo, e o incômodo continua ali e reaparece. Isso é bom, pois você está lendo porque tem interesse verdadeiro, e não porque aquilo lhe aparece como uma facilidade. Algumas pessoas terão mais facilidade de ler, mas a questão não é o que você lê, e sim o que seu coração está absorvendo. Não importa o quanto você lê ou o que lê; importa a sua sinceridade em estar ali, a sinceridade do seu coração. Só a sinceridade aumenta a inteligência, só a sinceridade aumenta QI, só ela lhe deixa mais rápido, mais disposto, mais perspicaz.

Quando a sinceridade do seu coração encontra um objeto de estudo e você consegue se debruçar ali, e entender, e estudar, e permanecer naquele conteúdo, você fica mais inteligente em todos os domínios da vida, em todos os aspectos. Por quê? Porque está dando alimento para a sinceridade, que alimenta o seu interesse, e isso aí fica se realimentando, e você vai fortalecendo o seu caráter. Você fortalece a sua vida moral, porque está exercitando a sinceridade. 

Quando você entra no estudo de costas, para refutar, para ser o gostosão, você está exercitando não a sinceridade, mas a falsidade e a vaidade. É óbvio que sua vida moral vai piorar. Você pode até ficar sabendo de algumas coisas a mais do que o cara da esquina ou até mais do que a sua professora, mas você se torna uma pessoa pior. 

E aqui devemos começar a imaginar: “Onde está o meu interesse? De que coisas eu gosto? Em que assunto tenho interesse? Quando eu entro numa livraria, para onde se dirige o meu olho?” Se seu interesse é fotografia, vá estudar fotografia. Se seu interesse é só o café, sente e pegue um livro sobre café. 

Há pessoas que não precisam ter vida intelectual, basta uma vida prática. A vida intelectual só tem sentido, só tem força se estiver unida à vida prática; não necessariamente a uma vida operacional, e sim à vida prática no sentido de ter uma conexão verdadeira com seu coração, verdadeira com seus interesses, e não estar apenas no campo das idéias, no campo das abstrações. Isso é bobeira, é palhaçada, e só funciona para paralisar sua vida. 

Mesmo os intelectuais têm de fazer um exame diário para ver se os livros que estão lendo possuem conexão com uma necessidade do seu coração, com a sinceridade, se não você está estudando com o método errado.

Às vezes você tem de estudar um assunto com o qual você não concorda, mas precisa lidar com ele todo o santo dia. É o caso, por exemplo, de um psicólogo que não pertence à linha da psicanálise, mas estuda psicanálise para entender melhor seus pacientes e seus colegas da profissão. Mesmo que o assunto não seja do interesse do psicólogo, a conexão desse assunto com a realidade é de um interesse mortal. Esse tipo de estudo não afeta ninguém moralmente, porque embora o psicólogo, no exemplo que dei, discorde do autor que está estudando, o que o leva a estudá-lo é um interesse genuíno pautado na sinceridade de seu coração.

Se não somos sinceros, pioramos moralmente, porque a falsidade está na dianteira, a vaidade está na dianteira, essas forças negativas e destrutivas do espírito. 

Do outro lado, se você não quer ter uma vida de cultura e só quer estudar porque precisa passar no concurso, qual o método? O método chama-se ter disciplina, matar as expectativas de que é gostoso estar ali, matar as expectativas de que existe um método mágico –  leitura na diagonal, leitura panorâmica, leitura dinâmica –, não tem esse negócio. Você vai sentar e vai ler. “Mas eu resumo ou não resumo?” Tanto faz, faça o que funciona para você; não existe regra. “Ah, só consigo estudar resumindo.” Então resuma. “Só consigo estudar marcando no livro.” Então marque. “Não, eu só consigo estudar resumindo no computador, resumo no iPad, no iPhone.” Vá lá e faça. Não existe método para isso.

O método é, em primeiro lugar, matar as expectativas de que é gostoso estudar. Em segundo lugar, não tenha medo de apenas decorar, é assim mesmo. Estudo funcional é decoreba; você não está estudando para nada. Não está estudando para reter na memória; está estudando para reter na sua atenção operacional. Você vai lá, faz a prova, e acabou. Então, a maior parte do estudo de concurso é orientada para o resumo, que você vai rever quatro, cinco, dez dias antes. 

Nenhum concurso sério lhe dá tempo para entender toda a disciplina. Por exemplo, você vai prestar curso para magistrado. Sabe quanto tempo vai demorar para entender o Direito? Uma vida inteira! Se começar no Direito Romano e acompanhar toda a discussão do Direito, todas as correntes, você vai entender o Direito. Para o concurso, você não vai entender a história de uma lei sequer.

Como fazer? Você vai estudar resumindo, compactando, para que, nas vésperas do concurso, relembre as palavras-chave, os tópicos principais e faça a prova. E logo em seguida, você esquece aquilo e vai trabalhar no cargo em que passou. Para ser juiz, defensor, promotor, analista técnico, você precisará de uma série de outros recursos que não aprendeu naquele concurso. 

O que importa é a vida prática, o que vai fazer quando tiver a carreira na mão. Você pode esquecer tudo que estudou. Não fique com esse problema. “Ah, é uma perda de tempo danada.” Quando receber o salário do concurso que passou, vai ver que foi ótimo aquele investimento.

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