A VERDADE SOBRE O SOFRIMENTO

Uma coisa que marca o espírito do homem contemporâneo é a sensação de tédio, aborrecimento e aporrinhação. É aquela atmosfera de fim de tarde de domingo pairando praticamente pela semana toda. O sujeito tem medo de enfrentar a vida, de se pôr à prova, é apegado demais aos bens próximos, morre de pavor de perder as coisas e quer salvar a própria pele por tudo. 

Não tenho aqui a pretensão de inaugurar uma nova era, mas quero que você entenda que existe um elemento de aventura, de tesão, de gana, que você tem de cultivar em seu peito para ser capaz de enfrentar cada dia com honra.

E o primeiro elemento a atacar para construir algo importante na vida é a aversão doentia ao sofrimento, seja interior ou exterior. Muita gente está estagnada porque evita a todo custo passar por qualquer sofrimento, por qualquer coisa que exija algum tipo de privação ou esforço. Essa aí é a receita para se dar mal e cair numa frustração profunda.

A IMPORTÂNCIA DA INTENSIDADE

Sempre destaco a necessidade da força física porque quero apontar para uma certa consistência que precisamos ter. Não para que sejamos capazes de levantar um caminhão ou qualquer coisa assim. Por si, isso não importa de nada. A consistência que procuro destacar é uma força de ação, cujo vigor físico é um sinal, mas não uma tradução literal.

Madre Teresa de Calcutá não tinha medo do sofrimento, da pobreza, do frio, do calor, da fome, do que falavam dela, de confrontar interesses globalistas… Ela não tinha medo de nada, pois não estava apegada a uma estrutura mental. Ela não prestava atenção ao próprio sofrimento, mas ao sofrimento do outro. Por isso se doava e vivia a vida com intensidade.

No fim das contas, o que mais faz as pessoas sofrerem, e falo aqui do sofrimento verdadeiro, aquele que leva ao desespero e a uma agonia vital, é apegar-se a uma imagem de vida ideal e não se confrontar com a realidade.

A pessoa se apega a uma imagem mental de vida perfeita e não desenvolve a capacidade de preencher a caminhada diária com intensidade. Na cabeça dela, não podem ocorrer adversidades, o pneu não pode furar, o elevador não pode quebrar, o dedão não pode doer etc. Nada é enfrentado como fato normal da vida e a pessoa não vai para frente, fica estagnada sem preencher sua caminhada com a intensidade que uma vida plena exige. 

QUE CAMPO DE CONCENTRAÇÃO QUE NADA

Outra figura que mostrou de maneira mais que eloquente um modo exemplar de enfrentar o sofrimento foi o psicólogo austríaco Viktor Frankl. 

Depois da ascensão do nazismo, ele sabia que seus pais acabariam num campo de concentração. Ainda assim, o Dr. Frankl recusou um convite de uma universidade americana e ficou no seu país. Ele e toda a sua família foram para algum campo, mas o Dr. Frankl acabou por desenvolver lá dentro o seu método para a busca de sentido, a logoterapia. 

Um dos elementos da logoterapia é aceitar o sofrimento inevitável da vida. Aceitá-lo não significa ceder ao masoquismo, não é pensar que o sofrimento seja gostoso e bom. Mas acolher os sofrimentos inevitáveis da vida é o que nos dá certa calma dentro da instalação vital. Sem essa calma, é impossível acordar todo dia com ânimo para fazer o que deve ser feito. 

Veja bem, para algumas pessoas, como Viktor Frankl, nem um campo de concentração é obstáculo suficiente que as faça entregar os pontos. Nada disso. Elas vão sempre usar as circunstâncias para fazer e se tornar mais. 

ENTRE DOIS EXTREMOS

Se não aceitamos o sofrimento, nunca viveremos direito, estaremos sempre lutando contra uma parte constitutiva da realidade. Não há um único dia em que não aconteça algum sofrimento na nossa vida. E nisso estão contemplados os grandes e os pequenos sofrimentos: tanto um campo de concentração quanto um calor de 40º.

Diante de qualquer sofrimento, podemos escolher espernear feito crianças ou fingir que eles não nos atingem, como adultinhos afetados. Podemos ainda, e essa é a postura adequada, nem reclamar nem resistir, apenas compreender que os sofrimentos fazem parte da vida e o nosso papel é passar por eles sem sermos abatidos no caminho. 

Quando sobrevém um sofrimento, o calor, por exemplo, não devemos nem reclamar nem fingir que ele não nos afeta, mas entender que o sol brilha e que atinge nossa pele gerando tal sensação no corpo. Portanto, é possível incomodar-se com o fenômeno ou apreciar o conjunto de coisas que está acontecendo. Isso é o que Viktor Frankl chamou de “aceitar o sofrimento inevitável da vida”. 

Outro exemplo: a pessoa deve no banco e os credores não param de ligar. Diante disso, dá para entrar num estado de afetação tão forte que faz o sujeito paralisar. Por outro lado, é possível compreender que, se a dívida existe, os credores vão ligar. Essa, na verdade, é a função, o trabalho, do rapaz do outro lado da linha. 

Quem foge de uma situação difícil, adia um sofrimento externo e gera outro interno, que leva bem facilmente à ansiedade. O posicionamento correto é tomar certa distância do fato e entrar na realidade da vida. É reconhecer, como um ser humano maduro, que está devendo dinheiro e que os credores têm direito de cobrar. Mesmo que eles sejam ríspidos, ainda assim estão no seu direito. Essa é a vida. 

Quando fugimos dos sofrimentos como o diabo foge da cruz, fugimos da realidade da vida; ao fugir da realidade da vida, perdemos força; perdendo força, ficamos à mercê do mundo e o desespero e a impotência entrarão em cena. Infelizmente, a maioria das pessoas odeia o sofrimento, e é por isso que esta mesma maioria está paralisada, não conquistando nada de bom na vida. 

O SOFRIMENTO É FIBRA DA VIDA

Temos de entender que o sofrimento não é algo que possa ser retirado da vida. Ele faz parte da fibra da vida humana. Sem sofrimento, o que há é um lugar onírico desconectado da realidade. Portanto, todo tipo de sofrimento, desde os físicos até os morais, é fibra da vida humana. Não é possível rejeitá-lo. Quando um sofrimento aparece, devemos aceitá-lo com amor, porque isso é a vida humana. 

Mas se a pessoa odeia a vida humana, ela vai para outro lugar; e se vai para outro lugar, já se desconectou da realidade. E essa desconexão é o que gera isolamento, solidão e tristeza. É preciso adotar a atitude que estamos propondo aqui, pois isso só depende da vontade. 

O sofrimento é o que dá consistência à vida humana. 

Não se trata de gostar de sentir dor, porque dor é de fato ruim; mas pior ainda é negar o sofrimento, pois assim se tira a armação da vida humana, tornando-a mole e solitária.

Todos nós temos, todo santo dia, um dinheiro que podemos investir. Esse dinheiro é o sofrimento, que podemos pegar e transformar em força e vitalidade, começando pelos sofrimentos físicos, com os quais é mais fácil lidar do que os sofrimentos morais, como o sofrimento de atender o telefonema de alguém a quem se deve dinheiro. 

Você quer ser o sujeito que enfrenta a vida com honra, coragem e valentia? Esse é o caminho: não tema o sofrimento. Faz parte do processo de coragem confrontar-se com a dor e a humilhação. Uma pessoa corajosa entende que pode dar com a cara no muro, ir à falência, ter o coração partido, mas reconhece que vale a pena viver, vale a pena amar, perdoar, acordar, servir e ser útil. 

Então, comece a partir de hoje a aceitar o sofrimento. Isso vai te levar a sair do marasmo, da mediocridade, do medo, da covardia e chegar à construção de uma personalidade madura, em algo parecida com Madre Teresa, Viktor Frankl e tantas outras pessoas notáveis. 

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