VENCENDO O VÍCIO ASSOCIADO A CADA TEMPERAMENTO
Bom, conforme prometido no artigo anterior, aí vai uma ajuda para resolver o vício específico ligado a cada temperamento. Lembrando que, independentemente do temperamento, todos nós estamos sujeitos aos sete vícios. O que vou tratar aqui é de uma inclinação maior de um temperamento a este ou àquele vício. Dito isso, vamos aos passos concretos que melhoram as nossas tendências.
SANGUÍNEO E INCONSTÂNCIA
Então, quem é sangüíneo tem de vencer o apelo ao chamado do mundo e à inconstância, ou seja, tem de lutar contra a sensualidade da gula e da luxúria. E por que o sangüíneo é inconstante? Por estar a todo momento suscetível às impressões do mundo, que mudam a cada instante, fazendo mudar o nosso interior.
Se você for uma pessoa inconstante, você não vai muito longe, não só no sentido profissional, de juntar dinheiro, mas também no propósito de melhorar interiormente, de amar mais, de servir mais, de ser uma pessoa digna, correndo o risco de não saber, na hora da morte, se foi você quem viveu a sua vida ou se foi o mundo. O remédio para isso é uma técnica chamada plano de vida. Quer dizer que só o sangüíneo precisa fazer isso? Não. Todos precisamos, mas o sangüíneo, particularmente, deve abraçar esta prática como se fosse a última tábua de salvação, como se sua vida dependesse desse negócio.
O plano de vida são normas que vão colocar ordem no seu dia. Se o colérico e o melancólico intuem melhor o andamento de uma rotina, o sangüíneo vai precisar se esforçar mais para adquirir esse senso. Ele vai precisar ter a grade de horários colada sobre a escrivaninha, na tela do computador, no porta-luvas do carro e no armário do banheiro, para visualizar repetidas vezes como será o seu dia. Se fizer isso por cinco anos, ele vai notar a progressão. E é importante fazê-lo sem perder a alegria. Não adianta desfazer-se de um defeito se você perde uma qualidade. A alegria, o sorriso no rosto, a boa disposição, o olhar para o outro são sinais de que você está no caminho certo.
Esse plano de vida deve contemplar sobretudo as suas práticas espirituais. Isso não é conversa de religioso. Ter práticas espirituais é manter contato com a beleza, com a justiça, manter uma relação com Deus. O sangüíneo precisa ter atividades espirituais bem marcadas no seu dia, porque ele é um sujeito afeito naturalmente às coisas do mundo, e não às do espírito. Uma questão que o sangüíneo tem de se colocar é se as atividades que ele toma por espirituais, como ir ao culto ou à missa, são feitas visando sua relação de intimidade com o próprio Deus ou se são feitas apenas para se sentir bem. Se o objetivo delas é você se sentir bem, ou mais em paz, isso ainda não é exatamente vida espiritual, mas vida do bem-estar, que são coisas bem distintas.
Portanto, a primeira preocupação do plano de vida é estipular meios de você manter o contato constante com a beleza, com as boas leituras, com a oração, com a esmola e o jejum. Você pode estabelecer metas como “uma vez por semana eu vou jejuar”, “duas vezes por dia eu vou rezar”, “duas vezes por dia vou fazer a leitura de algum livro que trate de coisas superiores, transcendentais”, e assim por diante. É muito importante, para o sangüíneo, que essas coisas estejam muito bem definidas. Depois disso, vêm outros afazeres, como ligar para a avó que mora sozinha de tanto em tanto tempo, o horário de usar o computador etc. É importantíssimo que o sangüíneo organize uma agenda clara para adquirir firmeza e vencer a inconstância.
FLEUMÁTICO E PASSIVIDADE
Já o fleumático tem uma tendência à passividade. Também não é difícil notar que uma pessoa passiva tende a não ir muito longe. É fácil para o fleumático ser empurrado pela vontade dos outros, e é isso o que ele tem de vencer.
Se você colocar um limão rapidamente num copo d’água, retirando-o em seguida, a água não vai ficar marcada pelo limão, porém, se o deixar ali por um bom tempo, a água do copo fica flavorizada. Isso indica que o fleumático é um sujeito que tem de estar em contato com grandes ideais por muito tempo. As grandes convicções transformam não só a sua natureza mas também as reações dessa mesma natureza. Perceba que a água pode ser líquida, gasosa ou um bloco de gelo. Ela pode ser tanto uma pequena poça na calçada quanto um tsunami, que destrói cidades.
O fleumático é um sujeito que precisa de fato estar colado a grandes convicções, precisa rever suas motivações com freqüência, e aprofundar nelas, estudando e conhecendo gente que faz a mesma coisa que ele pretende fazer. Isso vai deixar um sabor dentro dele. E não adianta o fleumático ter pressa, o mundo não deixa nele uma marca permanente com facilidade. Ele vai precisar de calma para fundamentar os motivos das suas esperanças e convicções. Sendo assim, o fleumático, mais do que os outros temperamentos, precisa ter contato com livros e com grandes personalidades. Esse é o remédio para a sua passividade.
MELANCÓLICO E DESESPERANÇA
O melancólico, por sua vez, tem certa inclinação para a desesperança, que o impede de prosseguir. As pessoas com tal temperamento são mais dadas à introspecção; as coisas dentro delas ressoam por mais tempo. Diferentemente do que acontece com o fleumático, o mundo deixa muitas impressões no melancólico. E porque o mundo muda muito e nos contraria muitas vezes, podemos começar a achar que ele é mau. A desesperança faz com que desistamos das coisas. Para combater essa tendência, o melancólico precisa ter um contraponto, uma oposição a essa inclinação natural, por meio da observação da bondade no mundo.
O melancólico tem de querer se informar das coisas boas que existem no mundo, porque são muitas, sendo a primeira delas a própria criação. Deus criou o mundo porque quis e viu que era muito bom. Depois, há as personalidades boas que passam por aqui e deixam a sua marca, deixam um rastro de amor que apaga as marcas de ódio e desesperança. O melancólico precisa olhar para isso querendo amar. Um bom exercício para um melancólico fazer é listar as coisas boas com as quais ele se depara no dia-a-dia. Assim ele vai vencendo essa desesperança.
COLÉRICO E AUTO-SUFICIÊNCIA
Por último, mas não menos importante, o temperamento colérico. A má inclinação do colérico é a auto-suficiência. O erro é acreditar que ele se basta, que não precisa de mais ninguém.
Para derrubar essa idéia, vou dar um exemplo trivial e prosaico. Eu não conseguiria escrever esse artigo se não fosse a pessoa que fez a cadeira na qual estou sentado, se não fossem as pessoas que desenvolveram e disponibilizaram a tecnologia que estou usando (computador, programa etc.). Ninguém é auto-suficiente. Você não é a última bolacha do pacote, nem a primeira. O colérico tem de duvidar muito dos seus primeiros impulsos. Esse é o grande alarme que precisa soar na sua cabeça. Ele precisa duvidar das suas primeiras idéias e dos seus primeiros impulsos porque, em geral, o colérico vai ter uma tendência a crer que a primeira idéia que passar pela cabeça dele já é boa o suficiente, à qual todos os outros devem se curvar.
Outra coisa que o colérico precisa aprender a fazer é não atropelar os outros nas conversas. Atropelar alguém numa conversa é não deixar o outro concluir a sua fala, o seu raciocínio. Essa é a indicação de que o sujeito se considera a origem e o fim de tudo, ou seja, de novo, que se acha auto-suficiente. Essa auto-suficiência não deixa você enxergar as falhas que impedem o seu progresso pessoal. O exercício para o colérico controlar a tentação de achar que é auto-suficiente é falar menos e prestar mais atenção nos outros.
Bom, seria isso. A idéia foi apresentar alguns remédios práticos para controlar as más inclinações do nosso temperamento. Espero que essas dicas tenham um grande efeito no relacionamento com sua família, na sua vida profissional e na sua relação de intimidade com Deus.
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