OS MOMENTOS DE FALA INTERIOR DEFINEM A SUA VIDA

A fala humana é um grande expediente transformador. Já vi muita gente com certos desejos no coração que, quando se põe a colocá-los para fora durante uma terapia, ou até mesmo numa conversa mais ou menos informal, sente um desejo muito grande de melhora. A pessoa meio que assume aquilo que estava guardado de modo particular. 

De início, é algo um pouco abstrato, é um desejo de melhora ainda não muito definido, mas no decorrer do processo os pontos vão ficando mais concretos e acabam se traduzindo em uma vontade de ser mais leal, de ser mais comprometido no trabalho, na família e na religião. Esses momentos de conversa franca são sempre transformadores, porque falar é de fato uma ação transformadora. 

Já me acusaram de defender a ideia de que as palavras não têm poder. Mas isso só pode ser um mal-entendido. É óbvio que as palavras, de certa forma, criam uma direção para o que será feito depois. Quando o sujeito está no consultório, abrindo as portas do seu coração, essa atividade por si só tem um poder notável de mudança. O sujeito, naquele momento, aponta para o lugar no qual quer chegar, para o tipo de vida que quer ter. Em algum grau, ele está se tornando a pessoa capaz de viver a vida que está concebendo. 

Para o ser humano, a fala é algo absolutamente nobre; é o modo mais importante de se escrever e contar a própria história: o modo que falamos é o modo que contamos a nossa história.  

Mas não devemos considerar apenas a fala exterior. Dentro de nós há um discurso que nunca cessa. Nunca deixamos de elaborar uma fala interior a respeito de todo tipo de coisa. E é nessa fala interior que está a oportunidade de adquirir um hábito com uma força transformadora ainda maior que a fala externa. Os momentos de oração também são momentos de fala. Algumas pessoas têm o hábito de fazer uma oração mental. Então a pessoa está encontrando um lugar de calma, de consciência, de clareza, no qual o coração dela vai transbordando através de palavras mentais. E é evidente que essas pessoas nesse momento também passam por uma transformação.

“ITALO, NÃO ESTOU VENDO RESULTADO”

O brabo é o desespero daqueles que não tem a menor ideia de como as coisas realmente funcionam. Você já me acompanha há um tempo, tem uma vida de oração, faz terapia, mas sente que não deu o passo definitivo, que, no fim das contas, você não melhora. É aqui que quero lhe ensinar o que infelizmente pouca gente sabe. 

É o seguinte: você nunca está em silêncio. Pode reparar que você está sempre “falando” alguma coisa, independentemente da sua forma de pensar. Não há nada de errado nisso. Esse não é o problema. Não é próprio do homem estar em silêncio, o homem nunca cessa o verbo, nunca para de falar. A capacidade mais própria do homem é estar conectado ao verbo, e verbo é fala. Mesmo que você tenha o costume de participar de retiros. Nesses casos, há um silêncio exterior; contudo, por dentro, na verdade, a atividade de fala fica muito amplificada. 

A nossa fala interior nunca pára. Quando estamos ocupados com atividades físicas extenuantes, diminuímos a fala dialogal, mas por dentro continuamos com uma atividade incessante, com pensamentos que vão e voltam da nossa cabeça de maneira quase obsessiva.

Deixe-me falar aqui o motivo de você não melhorar, de continuar com implicância para cima de certas pessoas, de continuar indolente e preguiçoso mesmo fazendo terapia, praticando religião e me acompanhando por um tempo. Isso acontece porque a sua atividade de fala fora dos momentos de terapia e conversa com outras pessoas, fora dos momentos de oração, está 100% degenerada. 

Por mais que você tente ser doce na fala com amigos, esposa, mãe, marido, tendo sucesso na maior parte do tempo, em determinados momentos você explode. Isso lhe faz perceber que você é mal-humorado, seco, que faz fofoca desnecessária e muito mais. Em contraste, durante a oração ou durante a meditação, após a leitura diária da Bíblia, você tem pensamentos altíssimos e se regozija com a bondade do Pai, com a entrega do Filho e com o amor do Espírito Santo. Depois, no trabalho, você continua preguiçoso e espinhoso, ao ponto de pensar em desistir de tudo por não saber mais o que fazer. 

Mas, pense o seguinte: quantos por cento do seu dia você passa falando para fora? A porcentagem é bem pequena se comparada com a fala interior. Eu costumo perguntar às pessoas o que elas falam quando se olham no espelho, quando descem o elevador, quando saem de casa para entrar no carro, quando pegam o ônibus ou o metrô, quando sobem as escadas do trabalho, quando almoçam sozinhas no restaurante. O que você fala quando descasca batatas, quando esfrega o chão, lava a louça, dá de mamar ao filho? O que você fala nesses momentos misteriosos e ocultos? É para isso que a sua vida está aí, e é para lá que ela vai. 

RÉDEAS NO CAVALO SELVAGEM

Aquilo que falamos nos momentos de oração, de terapia, de conversa com um familiar é muito importante, ninguém duvida. Agora, isso é muito pouco. São os momentos de fala interior que determinam a qualidade da nossa vida afetiva e espiritual. São eles que definem o rumo da sua vida. 

Qual é a qualidade da sua fala interior? Você já prestou atenção nisso? Veja se, por dentro, de modo oculto, você não é uma pessoa que se queixa, que alimenta desejos esquisitos, que está sempre buscando comparações. Essa é a realidade comum de uma fala interior degenerada, de quem carrega um cavalo selvagem, sem rédeas, que toma a direção que quer por pura falta de quem o dome. 

O que se deve fazer contra isso? Cultivar dentro de si um estado permanente de oração (mas não vá entender errado o papel que isso tem). Coloque rédeas de amor que domem essa fala interior rebelde, podre, desesperançosa, materialista e hedonista. Cultive um estado de oração constante por uma ou duas semanas para ver o que acontece com sua vida. E quando falo oração constante, é constante mesmo, permanente, é a repetição incessante de pedaços de orações. Não tem problema se você não tem religião. Oração é uma fala arquetípica que está por cima de toda fala; ela tem um significado em si mesmo que jamais se extingue ou degenera. Isso é o que define uma oração. 

Imponha-se esse desafio. Preencha sua fala interior de sentido de esperança, amor, entrega, doação, por meio da fala permanente de uma oração. Você pode, por exemplo, permanecer falando as palavras do Pai-nosso. Ou pedaços dele. Desse modo, você preenche sua vida de sentido sobrenatural. 

A qualidade da sua vida é a qualidade da sua fala. Dependendo do discurso interno que você cultiva, a qualidade da sua vida é esta ou aquela. Você age exteriormente em acordo com seu discurso interno. É possível inferir o que uma pessoa costuma falar internamente por meio das ações externas dela. Não importa o que ela fala da boca para fora, literal e figurativamente. 

O que falamos por dentro se reflete no que fazemos. Então, vamos começar a falar o que pretendemos ser. Se você pretende ser comprometido, se pretende servir e levar esperança aos outros, faça o exercício da oração permanente. Você vai notar sua vida externa mudando por causa da qualidade da sua fala interna. 

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